quinta-feira, 10 de setembro de 2009

OBAMA E A SAÚDE

Recebi emails de vários amigos perguntando o que se passa por estas bandas com mais uma tentativa de reformar o sistema de saúde nos EUA.
Não tenho acompanhado com pormenor toda a telenovela fabricada pelos sectores mais conservadores da sociedade americana: a ala mais à direita do Partido Republicano, as franjas racistas (a KKK ainda existe), o lobby das armas, algumas empresas que fomentam e suportam falsos “movimentos de opinião”, os fabricantes do medo, tudo isto e muito mais suportado por rádios locais (entre as quais se distingue a de um senhor chamado Rush Limbaugh, que destila ódio por todos os poros) e pela Fox News (principalmente por senhores como Hannity ou Glen Beck, que são os porta-vozes da direita republicana mais radical).
Como pano de fundo de toda esta amálgama de gente diversa, mas que converge no combate contra Obama e o que ele representa, está a luta contra o “socialismo”!
O esclavagismo acabou e os anos sessenta em que, na Florida (como em todo o sul), havia escolas para pretos e escolas para brancos, em que os pretos não comiam nos mesmos restaurantes dos brancos, em que não podiam andar de autocarro, etc, já estão distantes. Já lá vão os tempos do McCartismo e da perseguição e morte dos comunistas. Já não interessa falar dos terroristas ou do Reverendo Wright (lembram-se?). Agora, o que põe em causa o futuro da América (eles falam sempre da América e não da parte que dá pelo nome de Estados Unidos da América) são as medidas “socialistas” que o Presidente Obama pretende ver aprovadas no Congresso (House of Representatives e Senado).
Para aumentar a confusão o Partido Republicano anda sem rumo e sem liderança. Quem é o líder, ninguém sabe. Lutas intestinas, sorrisos hipócritas, tentam disfarçar a crise de um Partido que foi poder e que agora está em clara minoria no Congresso. Uma crise que tem a ver, ela própria, com a crise de valores da sociedade em que se insere.
Também não tenho acompanhado com entusiasmo a actividade do Partido Democrático. Este sistema bipartidário, ora agora governas-te tu, ora agora governo-me eu, deu o que deu e o que continua a dar. Vivo a experiência de uma democracia mitigada e não participada (nas eleições presidenciais votam menos de metade dos cidadãos e nas restantes, entre dez a vinte por cento), tolhida por ideias feitas (a ideia que os EUA e os seus cidadãos estão acima das leis e do direito internacional, a superioridade “americana”, o nacionalismo provinciano a que chamam patriotismo, etc), comandada pelas grandes corporações e por um poder militar que pretende valer por si.
Os EUA são o único país industrializado que não têm um sistema de saúde universal. Será preciso dizer mais?
Tem acesso aos cuidados de saúde quem tem um seguro de saúde. Há dezenas de milhões que não conseguem ter (por falta de capacidade financeira, por estarem desempregados, ou pelas companhias de seguros não os aceitarem – por serem doentes, ou demasiado gordos, ou outra razão qualquer, o que eles chamam as “preconditions”…).
Há um programa público, chamado Medicare, para os cidadãos com mais de 65 anos. Data de 1965 e foi aprovado nos tempos do Presidente Lyndon Johnson. Nesse tempo o Partido Republicano desenvolveu uma campanha agressiva contra a ideia “socialista” de haver um programa de saúde para os mais idosos! Agora dizem que Obama quer destruir a Medicare!
Obama foi muito claro na intervenção de 45 minutos que fez, ontem, perante o Congresso.
Os que têm seguros de saúde (mais de 200 milhões) verão, com esta reforma, os seus direitos melhor defendidos. Os que não têm (dezenas de milhões) terão acesso a um sistema público de seguro que competirá com o sistema privado. Os custos de saúde globais serão reduzidos e controlados. As companhias de seguros não poderão impor condições especiais para não darem seguro a quem mais precisa dele (preconditions) e estarão sujeitas à concorrência do sistema que será criado.
Contra isto está a direita radical. E vale tudo. Desde a gritaria comicieira, até ameaçar com armas, passando pela inefável Sarah Palin a anunciar que o programa de Obama é uma sentença de morte para os mais velhos (sic)!
Obama avisou. Muitos têm sido os Presidentes que têm tentado introduzir melhorias e reformas no sistema de saúde. Ele não é o primeiro. Mas quer ser o último. Desta vez a reforma é para seguir em frente!
O que irá acontecer?...

2 comentários:

  1. Rezemos para que não lhe tratem da saúde a ele. Essa desorientação no Partido Republicano não é nada boa conselheira...

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  2. uma vez mais... de acordo... cheira a violência...

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