segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Para o Luís, do meu filho João Miguel

FICA EM PAZ AMIGO...

O mundo obriga-nos a crescer e transforma-nos, assim como tu nos obrigaste a crescer e mudar. Ninguém disse que a vida era justa. É dizer pouco... Ela não é justa! É assim que vemos, todos os dias, o que nos rodeia, mas nem sempre queremos acreditar.

Não esquecerei o teu exemplo como pessoa e amigo e a tua vontade de que TODOS pudessem viver melhor eu partilho e sempre partilharei. Por vezes vemos de que forma somos peões nesta vida na qual muito pouco está ao alcance de cada um. E a tristeza que comove quem te conheceu, só pode dizer a pessoa boa, corajosa, amiga, brincalhona, forte e também revolucionária que foste.

Se hoje é um dia que a todos dói é porque nunca te esqueceremos... Ao mesmo tempo que soube da noticia, a Gui (já tua amiga no Facebook!) estava na maternidade a ver nascer a primeira neta de um grande amigo dos pais dela. É fácil dizer que uns partem para outros aparecerem com novos olhares e ideias.... O difícil é dizer aos novos que aparecem que a vida é injusta... A educação que tive e que tu também tiveste ensinou-nos a lutarmos e a esforçarmo-nos por um cantinho melhor. É assim que esta criança, espero também o fará. O meu desejo é quando ela tiver uma noção do NOSSO mundo este já seja um sítio pelo qual nos orgulharemos tal como o nosso orgulho por ti.

Estamos confusos também porque a notícia veio inesperada... Já sem a luz do farol que eras para mim e, digo-te, para muitos que te viram crescer. Sinto-me perdido... Amanhã será tempo para ver o mundo com outros olhos. Sabendo eu que não basta ser boa pessoa. É preciso deixar o mundo melhor. Sei que tu o conseguiste e em todos colocaste a vontade para o conseguir também!

Fica em paz amigo...

domingo, 25 de outubro de 2009

ADEUS COM LÁGRIMAS E ATÉ SEMPRE

AO LUÍS, MEU ETERNO AMIGO


Conheci-te andavas na barriga da tua mãe. O teu pai andava longe, à procura de um sonho. Abril tinha sido há pouco tempo. Eu começava muito cedo os meus dias de trabalho na Siderurgia Nacional. Todas as tardes partia para as febris reuniões de salvar a pátria e construir novos caminhos. A palavra revolução andava escrita em cada gesto, em cada momento, em cada bandeira desfraldada. Tínhamos a idade da inocência. Alguns de nós fomos permanecendo assim.

Lembro-me da primeira vez que conheci o teu pai. Obrigou-me a comer sopa no fim de um jantar em que matei a fome empanturrando-me com tudo o que me ofereciam. “Aqui em casa todos comem sopa!” Ficámos Amigos desde então. Todos. Já lá vão mais de 30 anos. Tinhas 32 na noite em que partiste do convívio deste mundo. Continuamos Amigos. Porque fazemos parte da vida de cada um dos que connosco se cruzam e permanecem.

Recordo muita coisa, querido amigo. O teu sorriso que se iluminava quando descobrias qualquer coisa nova. O teu humor precoce. A inteligência que cedo revelavas. Uma sensibilidade invulgar. A arte que punhas nas coisas. A bondade e a coragem que foste mantendo toda a vida. Inquietação, procura, descoberta, como traços de um carácter irrequieto e incansável. Não fui só eu a admirar-te e a aprender contigo. Tocaste tantos outros.

Ensinei-te algumas coisas num tabuleiro de xadrez e, quando me acompanhavam a alguns torneios, tu e o meu filho mais velho, não era para assistirem a umas partidas, mas para participarem nelas. Como me sentia feliz a olhar para vós, o meu filho e tu, que eu amava quase como se meu filho fosses. Os dois sentados em frente do tabuleiro a moverem as pedras e a carregarem nos relógios. E a gente, à volta, a olhar para os putos com admiração. E eu a desfazer-me de prazer.

Foram passando os anos e acontecendo coisas. Previstas e imprevistas. Houve convívios quotidianos e afastamentos mais ou menos prolongados, mais ou menos dolorosos. Mas, em cada reencontro, era a conversa que recomeçava, como todas as cumplicidades e aventuras, os jogos e desafios, as gargalhadas ou as lágrimas. Fomos crescendo assim. Juntos. Mesmo quando separados.

Há uns anos saíste do país onde morrias sufocado. E partiste para as tuas afirmações de homem livre e poderoso e frágil e vitorioso e sofrido. Fui sabendo de algumas coisas. Foste sabendo de mim e de todos. Quando a Web permitiu, recomeçámos o convívio. Servimo-nos dos emails como traço de união. Por último facebookávamos e tornámo-nos vizinhos de farms virtuais. Sonhávamos ainda. E continuamos a sonhar.

Não interessam religiões ou crenças. Não interessa nada mais para lá desta presença que vence todas as ausências. Onde quer que estejas estás aqui tão perto de mim que este ADEUS que te deixo não é mais do que o ATÉ SEMPRE que sempre praticámos.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

DA BÍBLIA...

A propósito da última polémica levantada por Saramago recebi uma mensagem do meu amigo José Luís Ferreira que vem publicada no seu blog http://omeuflash.blogspot.com/ que, desde já, vos convido a visitar.
De qualquer forma aqui vai o texto completo.
...
Vasco Valente Correia Guedes, que usa assinar com o pseudónimo Vasco Pulido Valente, parece que só em alguns dias pares do ano consegue ser lúcido e aturável. De resto, em todos os dias ímpares, além dos restantes pares, é um velho chato, rezingão, convencido de um largo saber e de mais que variável humor, se é que alguém, alguma vez, lho descobriu.Já li coisas boas de VPV (soa melhor e é garantia de melhor proveniência), muito provavelmente nalgum dia par do calendário. Mas a data de ontem, 23 (dia ímpar, note-se), o social democrata, pela graça de Deus nascido num bom berço e que faz gala em se apresentar como tendo feito o seu aprendizado académico superior na ultrachique Oxford, revelou-se um elitista repugnante face ao comunista (cruzes!) José Saramago, dedicando-lhe uma peça miserável acerca das suas últimas declarações que incomodaram os católicos, mesmo a larguíssima multidão deles que são, consabidamente, pseudoleitores ou (menos ainda) conhecedores da Bíblia.A gratuita rudeza, a manifesta sem-razão, o ódio encarniçado, o veneno que vomitou na sua coluna de ontem no Público acerca do autor de Caim, foram confirmados pelo frente a frente, moderado por Mário Crespo, entre Saramago e o padre Carreira das Neves.Na sua referida coluna de ontem, VPV (a quem o Correia Guedes não garantia o berço desejado) considerou, bem explicitamente, Saramago inculto, iletrado e ignorante e um pobre coitado como são, na sua óptica, todos os não nascidos num berço de ouro, rico e com dossel adamascado ou de seda como seria, supostamente, o seu.Já no debate, o teólogo e especialista em temas bíblicos não só não usou da mais leve falta de respeito pelo genuíno ateu que é o autor de Caim (antes pelo contrário, fazendo-lhe até elogiosas referências), como não conseguiu contrariar Saramago, que mostrou saber do que falava. Ao contrário, foi o Nobel que deixou atrapalhado e sem convincente argumento o teólogo e biblicista.Infeliz e… (como hei-de dizer…) infantil (sem dúvida o caso) foi o clérigo que, a dado passo, e a propósito da linguagem metafórica dos textos sagrados aludiu a natural compreensão, para o fenómeno, de um autor que tanto lança mão da imagética, como acontece com o seu opositor. Mas, curiosamente, antes que, com a sua habitual calma, Saramago lhe desse resposta a tal ingenuidade, foi Mário Crespo que, não se conteve e referiu que se o Nobel usa de tais imagens e metáforas nos seus livros… Estes, porém, não são sagrados!Foi, realmente, um debate interessante e de nível, aquele a que assistimos esta noite.Coisa bem diferente foi a chicana deplorável do sr Correia Guedes.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PROCURAR AS RAÍZES - 3

Do meu sobrinho Fernando Hugo, angolano, português e, agora, brasileiro, com pedido de publicação, recebi o seguinte texto (sic).
Um contributo mais neste esforço de "procurar as raízes"...
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O interessante do artigo do Rogério foi que suas pesquisas e palavras chave usadas foram em inglês, "english slavery", entre outras... Corroboro com o que escreve Rogério em muitas partes, mas discordo na essência. Ele, e como qq português ou pessoa de fora que olhe para o Brasil, olha errado, e falo por experiência própria, o Brasil não é só carioca, o Brasil não é só garota de ipanema e o Brasil não é só Maitê Proença. E de uma coisa posso garantir, a mídia então falhou nessa tentativa de poluir com ideias pretensamente erradas. A Maitê não representa nem de longe todo um povo, e ela nem teve essa pretenção. Já li muitos comentários descontextuados, maioritariamente xenofobos, tanto do lado de brasileiros, quanto de portugueses quanto a este assunto, que precisamente se esquecem de suas origens. Há em toda esta discussão pouco conhecimento da outra parte. Mas nos remetendo ao fato de que Portugal tem uma boa parte da responsabilidade por não ser conhecido no Brasil, é determinante neste caso. Que a cultura portuguesa foi muito mal difundida no século passado nesta zona do mundo, foi. O que tenho notado nestes 8 anos de convinvência com os brasileiros, é que eles sabem resumidamente que português gosta de música pimba (igual à do Roberto Leal), conhecem alguns fados cantados pela Amália, que comem bacalhau, que têm um vinho bom, que são pouco inteligentes, muito trabalhadores e donos de padaria, e todos eles de norte a sul de Portugal trocam os "Vs" pelos "Bs". E pronto, acabou. Ainda esperava algo mais de descendentes diretos de portugueses, mas não, conhecem realidades destorcidas, uma imagem não condizente com Portugal ou com os portugueses e de hoje e de há pelo menos 60 anos atrás. Porque raio me perguntava eu. Porque será que só esses aspetos ficaram na memória coletiva? Portugal e os portugueses são tão mais complexos que isso, são feitos de tão mais partes... Será que não foram capazes de deixar mais nada?... E de facto não foram, o problema nunca foi os assassinos e os procurados pela justiça se terem refugiado aqui, foi que sua própria cultura era baixa, conheciam-se a eles próprios mal, e deixaram com eles ideias distorcidas. Português veio para aqui fazer vinho. Uva no Brasil?... No Sudeste conseguiram algumas uvas de boa produção vinícula, mas no Sul onde estava o clima para o cultivo de uva estavam os alemães e holandeses que trouxeram consigo toda o seu know how de produção de vinho, e hoje são os que vendem e produzem vinho. O vinho produzido por portugueses que se estabeleceram no sudeste é de má qualidade. Estranho não? No sudeste podiam ter plantado outras coisas, e plantaram, mas daí vieram os japoneses com todo o seu know how e produziam o dobro em metade dos terremos onde o know how português imperava. Os portugueses que fizeram fama e dinheiro, salvo raras e honrosas excepções, foram os padeiros que inventaram um novo conceito de negócio e de estrutura de padaria, o que é fantástico, mas que também os portugueses falam tão pouco, embora os Brasileiros todos saibam. Portugueses, pude testemunhar tanto em Angola quanto aqui não se orgulham muito de serem os maiores produtores do mundo de cortiça. Eles preferiam ser reconhecidos como produtores de estanho, ferro, produtos mais nobres, acredito. Porquê?
Portugueses fazem piada de brasileiro? Quem disse isso mentiu, português faz piada de alentejano, ora, faz piada do povo do Alentejo, dos povos mais trabalhadores que existe no mundo, os chamando de preguiçosos. Se desdenha a si mesmo, ri de si próprio, isso é bom por um lado, mas se tivesse orgulho de tudo o resto provavelmente isso não seria mais um ponto que desfavorece a imagem de que os portugueses merecem, e favorece sobretudo o preconceito. Os portugueses falam tudo no diminuitivo, um cafezinho, uma comidinha, um peixinho, um vinhinho, e resultado: um paísinho. Portugal necessita com urgência de transmitir mais o que é, como é e deixar-se de mesquinhices, assumir um papel que o levará a ser mais conhecido, sua cultura mais respeitada, seus artistas mais ouvidos, vistos, olhados, sentidos, apreciados. E olhem tudo o que tenho visto apesar das piadas de português, é que o povo brasileiro apesar de pouco conhecer de Portugal respeita os portugueses e um dos seus maiores desejos é conhecer a "terrinha". Mídia golpista parece ser algo como a "teoria da conspiração"... Menos!, meu caro Rogério, bem menos. E o que a Maitê disse, e não o que é, foi apenas um disparate alimentado por este estado de coisas provocadas pelos próprios portugueses. E eu que sou Angolano de meu pai, onde também nasci, Português de minha mãe e Brasileiro de meu filho, resta-me uma questão: "- E Angola, hein? Ah, Angola? Onde fica Angola? Lá falam português? Ah então fica na Europa, assim do ladinho de Portugal". E ser americano é muito mais legal. Fala-se inglês, assim como os termos que colocou Rogério, nas suas pesquisas no google. E tem-se orgulho da bandeira! Ama-se a bandeira, ama-se a terra, orgulha-se de cada clip que se produz. Bate-se no peito, grita-se aos ventos o que se é. Por pura curiosidade, alguém conhece e já viu por acaso a Bandeira do Estado de São Paulo? (O Estado de São Paulo é o mais rico estado brasileiro, e na região metropolitana de São Paulo (capital do Estado) cabem 2 Portugais (em termos demográficos)) Saudações Revolucionárias, Fernando Fernandes PS: Ah, e se alguém puder transmitir ao Rogério: Visite o Brasil, e descubra, que os brasileiros o adoram. Embora logo que possam vão contar uma piada de português para o fazer corar e o colocar afinal bem mais à vontade. Mas vão integra-lo na sua roda de samba, convidarem-no para um chimarrão, comer acarajé, e como resultado da influência do sangue de seus antepassados portugueses e por respeito a si irão fazer piada de baiano (igualzinho como você faz de alentejano). Interessante, não? E você preocupado com a Maitê... tss, tss...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

PROCURAR AS RAÍZES - 2

Com este tema poderá dar-se a volta ao mundo infinitas vezes e ficarão sempre coisas por descobrir e explicar.
Uma das coisas que aprenderemos é como foi errada a "História" que nos obrigaram a empinar quando andávamos no liceu!
A propósito, aqui vai um belo texto que tem a ver com complexos, preconceitos, ignorâncias, arrogâncias e outros males de cabeças que, por vezes, até se julgam bem pensantes...
Escreveu-o Rogério Mattos Costa, há uns dias atrás (14 de Outubro), a propósito de alguns disparates de Maitê Proença.
...
Rogério Mattos Costa, de MadriData: 14/10/2009
As grosserias de Maitê Proença, exibidas no programa Saia Justa (GNT/Globo) foram algo absolutamente normal. Essa é a conclusão a que chega Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, para quem, tudo seria culpa do preconceito que brasileiros e portugueses sentem uns dos outros, espontaneamente.
Permita-me discordar, meu caro Clóvis.
Maitê não expressou um preconceito que nasceu não se sabe de onde, mas vários conceitos criados pela mídia brasileira.
Ela apenas colocou no vídeo toda lavagem cerebral a que quase toda a população brasileira é submetida há várias décadas, desde a escola primária até quando lê um artigo seu e de outros colegas seus que ainda escrevem para a Folha e outros jornais do gênero.
Um processo orquestrado, coordenado, de permanente negação das origens, de ataque à auto-estima, de desprezo pelo nosso passado, que em outras palavras, nos quis sempre ensinar a odiar ter sido colônia de Portugal e não da Inglaterra.
Para quê?
Ora, para nos fazer aceitar, mais fácil, sermos um tipo de colônia dos Estados Unidos, que “teria tido mais sorte” em ter sido colonizado pela Inglaterra, mas que agora poderíamos “imitar”, sendo colônia da colônia dela!
Um processo que consiste em falar mal o dia inteiro, do Brasil, pela boca de centenas de “jornalistas” e “colonistas” regiamente pagos por prêmios, concursos e convênios de universidades americanas com seus jornais de origem.
Um processo que nos leva a odiar ter nomes como Ferreira, Lobo, Oliveira e não Smith, Lee ou Carter.
A não valorizar nosso próprio país, nossos costumes, nossos heróis, nossa língua, nossa forma calorosa e afetiva de tratar o diferente e principalmente, ao estrangeiro.
Um processo de lavagem cerebral que nos ensina a principalmente, a odiar a verdadeira mistura de raças que é o Brasil, apontando-a inclusive, como a fonte de nossa desgraça. Quando o mundo inteiro saúda e reconhece com enorme vantagem competitiva do Brasil.
Maitê nada mais fez do que, em público e ao vivo, repetir aquilo que não só as suas decadentes colegas de programa na Globo, mas mesmo nossas vetustas mestras, coitadas, já tinham que nos dizer, desde que éramos pequenos: ser descendentes de Portugal é a fonte de todos os nossos males.
Fruto da dominação cultural e ideológica a que sempre esteve submetido o Brasil, que Nelson Rodrigues tão bem chamou de “complexo de vira-lata”, aprendemos entre uma lição de Historia e outra que todo nosso atraso vem do fato de termos sido colonizados por portugueses “criminosos, degredados, sifilíticos, assassinos” .
Enquanto isso, para os Estados Unidos, segundo nossos livros didáticos, teriam sido mandados piedosos “protestantes perseguidos em seu país”, todos “peregrinos religiosos”do Mayflower, que confraternizaram no dia de ação de graças comendo um peru presenteado por seus amigos índios, com quem se davam maravilhosamente bem.
Segundo essa surrada tese racista, seria do próprio povo e não da elite brasileira, a culpa dos 502 anos de desgoverno em que essa elite governou sozinha, como quis. Mandando até naquilo que nossas crianças, como eu e a Maitê já fomos um dia, iriam aprender na escola.
Daria assunto para muitos artigos desmentir todas essas teses racistas, anti-brasileiras, mas vou tentar desmentir pelo menos duas delas.
A mais importante delas é que se Brasil e Estados Unidos foram descobertos quase na mesma época, porque razão o Brasil é assim e os Estados Unidos são a maior potência da Terra que já existiu?
Eles gostam de explicar que isso se deve a que os Estados Unidos foram colônia da “Old Albion”, da gloriosa Inglaterra, composta unicamente de orgulhosos anglo-saxões, uma “raça pura” enquanto que nós, ora fomos apenas um quintal mal explorado e bagunçado de um reinozinho de segunda, plantado na ponta da Europa, que já era uma mistura de godos, visigodos, suevos, árabes, romanos, lusitanos, etc...
Vamos aos fatos.
Abra o Google e coloque as palavras entre aspas “english pirate” e anote o numero de verbetes que irá localizar. Eu encontrei 65.440 páginas. Agora coloque “american pirate” e verá 78.900 páginas. Tecle “portuguese pirate”. Eu encontrei 13.800 verbetes. O que isso significa? Quase nada? Significa apenas, amigos leitores, que nossa “História”não conta mas o processo de acumulação pré-capitalista que permitiu à Inglaterra e Estados Unidos acumularem riquezas para construir uma marinha mercante e de guerra que lhe permitisse a supremacia dos mares, foi construída e acumulada, em grande parte, pela repugnante atividade da PIRATARIA, principalmente contra navios portugueses e espanhóis.
E inglês? Você lembra de quem era “Sir” Francis Drake, The Queen’s Pirate?
A pirataria nos Estados Unidos e Inglaterra era tão comum que a própria rainha Elizabeth I tinha-o como seu próprio pirata para roubar e matar por ela. Isso também está nos livros. Mas nossas escolas e professoras não contam. Até hoje.
Aos que duvidarem faço um desafio: digam o nome de um único pirata português. Não vão encontrar. Pode ser até que tenham existido. Mas eram perseguidos e capturados pelo estado português e não nomeados como cavalheiros , ou “Sir”, como foi Drake , um verdadeiro monstro de crueldade, nomeado pela própria rainha da Inglaterra, que o contratou.
Vamos à outra grande mentira: a Inglaterra era a salvadora dos negros escravos, que os odiosos portugueses comercializavam.
Novamente vamos aos fatos. Ao Google novamente.
Escrevam lá : “irish slavery” e verão 16.800 verbetes.
Se explorarem um pouco as páginas que abrir-se-ão diante de seu solhos, vão saber de algo que nunca foi dito em nenhum livro de historia brasileiro: os ingleses não só foram os que iniciaram o tráfego de escravos da África para a América do Norte e do Sul, mas foram os ingleses que iniciaram o tráfego de brancos.
Já por volta de 1640, por ordem do rei e depois de Cromwell, o ditador da república inglesa, foram expulsos de suas casas, aprisionados e vendidos como escravos mais de 330.000 irlandeses, homens, mulheres e crianças.
Ainda em 1800, enquanto os ingleses “patrulhavam as águas do Brasil, à busca de libertar escravos”, na Irlanda, meninas e moças eram aprisionadas em casa e vendidas como escravas no norte da África, por mercadores apoiados pelas tropas britânicas.
Ou seja, a riqueza da Inglaterra também veio de roubar a terra, as plantações, as casas, as estradas, pontes, igrejas, castelos da Irlanda e vender seus homens, mulheres e crianças para fazendeiros, amigos de piratas, ou eles próprios piratas, estabelecidos como nobres no “Novo Mundo Inglês”.
Duvidam? Experimentem clicar: why is irish slavery is never talked about.
Maitê Proença não é culpada das grosserias e baixarias que cometeu. Ela é apenas mais uma vítima das elites intelectuais do Brasil e da mídia que a serve-utiliza cujo único objetivo é manter-nos eternamente com a “moral baixa”.
Uma mídia que deseja que não saibamos o grande país que temos, o excelente conceito que nossos técnicos, profissionais, empresas, artistas, escritores, cientistas temos lá fora.
Uma mídia mais do que racista: anglófila e americanófila, que detesta não só tudo que seja português, mas que tenha qualquer origem latina.
Para quê isso? Ora para dominar-nos mais facilmente, explicando por nossa origem de sangue nossas desigualdades sociais e não pelo domínio de uma elite má, egoísta, cheia de soberba e politicamente mesquinha e atrasada.
Num outro artigo volto ao tema para mostrar, com endereços de pesquisa na web, mais verdades que nos tem sido encobertas nos últimos 502 anos.
Aproveitem e pesquisem bem as dicas que deixei acima.
Vocês irão ter um baita susto, garanto.
Ainda bem que agora existem essas ferramentas de busca! Aproveitem meninos e meninas!
Não deixem a mídia golpista fazer com vocês o que fez com a Maitê Proença!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PROCURAR AS RAÍZES -1

Hoje fui assistir a uma aula de História dos EUA à Universidade de South Florida. O professor (Gary Henkel) é um amigo que fui conhecendo e aprendendo a apreciar e estimar enquanto fazemos umas partidas de golfe. Fui à procura das raízes deste melting pot, deste império, desta mistura de gentes vindas dos quatro cantos do mundo. Senti-me confortável e feliz - a felicidade é sentir isso em breves momentos que não se esquecem - a respirar naquela sala ampla e bem montada onde parecia nada faltar: computadores, sistemas de vídeo e som, espaço, luz, jovens de ambos os sexos, palavras...
O tema central da lição de hoje foi a luta entre "federalistas" e "anti-federalistas", nos primórdios deste país, em torno da Constituição, das liberdades, da forma de governação...
No final só tive que agradecer a oportunidade que me tinha sido concedida.
...
Levei dois livros debaixo do braço. Um, oferecido pela minha filha Rita, no Natal de 2008, chamado A História da PIDE, da autoria de Irene Flunser Pimentel, publicado pelo Círculo de Leitores. Outro, comprado numa das minhas últimas idas a Portugal, do historiador C. R. Boxer, intitulado O Império Marítimo Português (1415-1825), da Edições 70.
...
O segundo, que aconselho vivamente, tem sido matéria de conversa entre mim e Gary e será alvo de futuras mensagens (que tenciono escrever neste blog) subordinadas ao tema que hoje inicio... Procurar as Raízes...
O primeiro foi como levar comigo um pouco da História contemporânea do nosso país, parte dela vivida por mim e pelas gerações que lutaram contra o fascismo português.
No fim da aula tivemos ainda uns curtos minutos para trocar umas impressões antes da despedida. Ficou o convite "Vem sempre que queiras" que vou aproveitar!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Prémio Nobel da Paz para Obama!

Textos que acabo de publicar no facebook.
1
Acabo de ouvir a curta e significativa intervenção que Obama fez a propósito do prémio Nobel da Paz. Para quem tinha dúvidas, basta reflectir sobre este curto e importantíssimo discurso. É impressionante ouvir falar no "meu período de vida"..., dito por quem tem a vida em risco. Que o mundo bom proteja Obama!
2
Quando Guantanamo for encerrada e a invasão do Iraque terminar, ainda faltará resolver a embrulhada do Paquistão/Afeganistão... Entretanto o complexo industrial/militar/político quer mais guerras: Irão e o que mais "estiver a dar"... Obama, que tem, permanentemente, a vida em risco, neste país onde é tão fácil matar, merece o Nobel... que mais poderá fazer o mundo para o apoiar?...
3
As pessoas que poem em causa esta decisão e acham que é cedo porque Obama nada fez ainda não perceberam a importância de ter eleito Obama para Presidente dos EUA. Orgulho-me de ter participado na campanha, de ter andado na rua a inscrever cidadãos, que nunca tinham votado, nos cadernos eleitorais. A paz faz-se de muitas pequenas/grandes acções.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Depois das eleições... Parte 2...

Alguns amigos enviaram-me respostas por email.
Pedi autorização para publicá-las sem referir os nomes.
É o que faço com prazer.
...
Resposta A do amigo A.
Caro Fernando,

Gostaria de continuar a manter contigo uma amizade sem nuvens, ou seja, sem a paixão e a subjecividade que a política empresta a tudo aquilo em que toca.

Tu estás a milhas do que se passa aqui e, mesmo bem informado, não respiras esta atmosfera, não engoles o que nós engolimos e não cheiras os pivetes que nós temos que aturar. Por isso as tuas análises não conseguem a minha adesão nem me provocam qualquer desejo argumentativo.

Bem podes achar que o ps teve uma grande vitória mas o que eu vejo é que todos aumentaram os seus grupos parlamentares à custa do ps que se limitou a encolher. Portanto, perdeu por poucos e não teve que ceder o lugar. Isto é factual e é o que se espera que um engenheiro diga, acho eu. O resto são fantasias.

A mim o que me envergonha é ser governado por um pm que se arrisca a vir a ter um mandato de captura internacional. E que obteve um simulacro de licenciatura nas condições que tu conheces. E que fez, e faz, outras coisas de todos conhecidas e que não acho motivo de orgulho nem desculpo.

O que faz de mim um sujeito intolerante nestas matérias é o facto de sempre ter dito que não poderia ser de partido nenhum porque a) é impossível encontrar algum que reflita a 100% o meu pensamento e porque b) nunca iria prescindir de dizer o que penso sobre qq matéria. Ou seja, tento mesmo manter-me independente e, para isso, tenho que ficar de fora .

A parte interessante que eu gostava de discutir contigo é aquela em que te referes às mensagens do eleitorado, cartão amarelo, etc, etc. Mas não por email. É que gostava mesmo de ter alguém inteligente a quem peguntar se a vontade do eleitorado existe. Eu acho que não. Há um somatório de vontades individuais a que se deu essa designação mas, saltar daí para criar uma personagem mítica que se expressa e a quem nos podemos dirigir, vai uma grande distância. Imaginas como me rio quando vejo uns senhores pretensiosos a espremerem as meninges para decidirem se um partido deve ou não pedir a maioria absoluta e as eventuais consequências disso no "eleitorado". Mas de que é que isso serve? Há boletins de voto para maiorias simples e maiorias absolutas? Em que é que um cidadão pode alterar o seu comportamento se o partido em que vai votar pedir ao eleitorado a maioria absoluta?

Espero que não leves a mal estas zargunchadas. Mas, para palmadinhas nas costas, acho que já deves ter amigos que cheguem.

Abraço.
...
Resposta B da amiga B.
Acho graça ainda teres garra para te entusiasmares com estas matérias daí, que te felicito por isso. Claro que tb contribuí para a vitória do PS, mas a "corte" à volta do poder é igual a tanta coisa menos boa que já vi, que o meu entusiasmo não se iguala ao teu.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

DEPOIS DAS ELEIÇÕES... O QUÊ?

O resultado das eleições legislativas de 27 de Setembro permitiu construir um conjunto de cenários muito interessantes e a merecer reflexão e debate.

Antes que isso venha, felizmente, a acontecer, incluindo a participação de todos os que lerem o que aqui fica escrito, importa avançar com algumas observações pessoais, como que a dar um pontapé de saída na discussão que se seguirá.

Em primeiro lugar há que referir que se tratou do segundo passo de um ciclo eleitoral iniciado com as europeias e que será continuado, a muito curto prazo (duas semanas), com as autárquicas e, a curto / médio prazo (pouco mais de um ano), com as presidenciais. Será o conjunto destes quatro actos eleitorais que marcará, no nosso país, o futuro político próximo que se antevê, desde já, um período de mudança geracional e de rearranjo de forças e de surgimento de outros movimentos, os mais diferentes, alguns deles que já despontaram e até já estão a participar no corrente ciclo eleitoral. Basta esta primeira observação e este primeiro tema que proponho para motivar um debate alargado e profundo, tão necessário no seio da sociedade portuguesa, que motive os mais jovens e os de mais jovem espírito a procurar novos espaços e novas soluções para os novos problemas e desafios. Económicos e sociais, educacionais e ambientais, políticos e sindicais. Mais do que nunca há que analisar o global e agir localmente mas, também, repensar o que está próximo para intervir no que parece distante.

Em segundo lugar há que salientar, em vez de qualquer vitória em especial, a estrondosa derrota eleitoral do PSD. Depois de uma minguada vitória nas europeias, que se deveu mais a deméritos alheios e ao desinteresse repetidamente manifestado pelo eleitorado (que se sente distante e indiferente e que olha para o Parlamento Europeu como se se tratasse de uma espécie de reforma dourada de agentes de segunda), esperar-se-ia (!!??) mais de um partido habituado ao poder e desejoso de o reconquistar, em sintonia, aliás, com o mais conservador, limitado e tacanho Presidente da República pós-Abril. Ao anunciar, durante a campanha eleitoral, que “tinha chegado a hora da verdade”, Manuela Ferreira Leite, sem o saber, jogou tudo e anunciou o seu próprio enterro político e passou, desde já, a palavra e o acto a toda uma geração de jotas que sentem chegada a sua hora.

Em terceiro lugar há que referir a vitória eleitoral do PS. Apenas reconhecida claramente, entre os diferentes protagonistas, diga-se, pela dirigente do PSD, num discurso sem chama de quem pretende sobreviver apenas quinze dias. Era ponto assente que a maioria absoluta não seria possível. Até o próprio Sócrates o reconhece ao chamar “extraordinária” a esta vitória. Perante a incompetência da oposição mais próxima, o eleitorado foi claro a mostrar um cartão amarelo à arrogância, mas a acender ums luz verde de oportunidade a um governo e a um Primeiro-Ministro que, pese os erros e as fragilidades, teve a coragem de enfrentar poderes corporativos instalados (desde a justiça à educação), lobbies acostumados a intervir na sombra (grupos financeiros e económicos), uma crise financeira com raízes imperiais, uma crise económica fruto da globalização selvagem e da falta de controle e de valores que se foram generalizando. O PS ganhou as eleições com maioria relativa. Alguns verão nuvens cinzentas de instabilidade nos anos próximos e, eventualmente, a necessidade de um intercalr confronto eleitoral. Outros, como eu, salientarão as virtudes de uma situação que deverá privilegiar o diálogo político e democrático, o respeito por propostas alheias e pelas diferenças, a procura de soluções para os problemas e de recusa e condenação pelas manobras que passam para criar mais problemas e conflitos para evitar as soluções.

Em quarto lugar há que falar dos que, não ganhando, cantaram vitória na noite eleitoral.

O CDS de Paulo Portas parece o mais vitorioso: recuperou o terceiro lugar no parlamento e, mais do que isso, é a única força à direita capaz de conseguir construir uma maioria com o PS. Entretanto, o PSD andará entretido a digerir os seus próprios conflitos internos e a preparar-se para um novo período oposicionista liderado por jovens ambiciosos e sedentos e apoiados por falcões ainda vivos. Mas o CDS está, também ele, marcado por um destino impiedoso: logo que o eleitorado mais conservador vir no PSD uma alternativa real, juntar-seá ao centrão cinzento e temeroso e colocará o CDS, novamente atrás do PCP e do BE. E tudo isto acompanhado por um dilema de difícil gestão: se apoiar o PS (como fez em anterior e fracassada experiência governativa) tenderá a penalizar-se, à direita, eleitoralmente; se for oposição ao PS (minturando-se com a oposição laranja) tenderá a ser parcialmente degluitdo e abafado, ao centro.

O Bloco de Esquerda aparece triunfante e contente e, também, imagine-se, arrogante. Passará a ter mais um deputado do que o grupo liderado pelo PCP o que, nunca o confessando, corresponde a um antigo objectivo há muito tempo perseguido. Conseguiu, segundo palavras do alto dirigente que mais cedo falou na noite das eleições, uma grande vitória: contribuir para retirar a maioria absoluta ao PS! Tão importante que foi colocada à cabeça de tudo o mais, até da sua própria grande subida eleitoral... Conseguiu duplicar o número de deputados como consequência dos votos recebidos de mais de meio milhão de eleitores. Mas só conseguiria ajudar o PS a ter uma maioria absoluta “à esquerda” com a ajuda do PCP, o que só parece possível em caos pontuais e meramente conjunturais (excepto no caso de aparecer uma alternativa conjunta, em Janeiro de 2011, com uma muito possível e necessária derrota do actual Presidente da República que, nesse caso, passaria à história como o primeiro Presidente, depois de Abril, que não conseguia ser eleito para um segundo mandato de mais cinco anos). O BE tem ainda, entre outros, um desafio claro pela frente: mantendo seu poder mediático e comunicacional e as suas caixas de ressonância bem afinadas nos media e em algumas elites intelectuais, alargar a sua base de apoio social e sindical.

O Partido Comunista Português (tudo muda, não é verdade?) parece não mudar. Ao proclamar, na noite eleitoral, a derrota do PS e a vitória da CDU, o seu líder foi igual a si próprio e a quem o antecedeu e, sabe-se lá, ao seu imprevisível sucessor. Mas, à esquerda do PS, o PCP é a única força global, a que tem, de facto, não apenas peso e poder político, mas também reconhecido poder autárquico e, sobretudo, poder sindical e negocial, poder mobilizador. O PCP tem ainda a virtude de, mantendo um eleitorado fiel, conseguir conquistar respeito e adeptos em franjas sociais, desencantadas com todas as outras alternativas, importantes para o seu futuro político de permanente e lento desgaste eleitoral (jovens, intelectuais, desempregados, revoltados,...).

Em quinto lugar, pela primeira vez, penso eu, uma palavra em eleições legislativas, pelas piores razões, para o que deveria estar acima de tudo isto – o Presidente da República. Com a sua falta de jeito e o seu conservadorismo foi o segundo derrotado, logo a seguir à sua colaboradora de estimação, com quem sonhou, aliás, poder vir a discutir os contornos do futuro governo. Se os eleitorados do PS, do BE e do PCP conseguirem encontrar um candidato às Presidenciais de 2011 que não assuste o centro, o actual PR antecipará, merecidamente, por cinco anos, uma reforma já anunciada.

Em sexto lugar uma palavra para os outros. Os que se organizaram para disputar eleições e que, sistematicamente, são marginalizados durante a campanha e esquecidos quando as urnas estão a fechar. Não fazem parte de sondagens à boca das urnas, muito menos de coberturas televisivas quando todos comemoram vitórias reais ou imaginárias, ou tentam disfarçar ou minorar pesadas derrotas. Pela minha parte gostava de ver alguns deles representados na Assembleia da República. Seria mais Assembleia e mais República. Era bom que aparecessem vozes a falar de esperança, a apontar dedos descomprometidos, a anunciar novos caminhos e, porventura, novas viagens. Mesmo que representem grupos e valores marginais na sociedade portuguesa era bom que conseguissem entrar no forum parlamentar e prestarem contas perante o país e os que neles votaram. Muitas vezes é na sombra que se geram grandes brilhos e no silêncio que se apuram os ouvidos para os mais belos sons.

Em sétimo lugar a abstenção. Vivendo agora num país em que cerca de 20% dos cidadãos com capacidade eleitoral não estão inscritos nos cadernos eleitorais, em que é muito bom que a abstenção seja de 50% nas eleições presidenciais e em que, em todas as outras, a abstenção oscila entre os 80% e os 90%, continuo a olhar para as abstenlões crescentes no panorama europeu como um sintoma de doença grave e que é imperioso não tornar irreversível. A principal responsabilidade está nos políticos que são eleitos pelos que votam, muitos deles que só o são, precisamente, porque a abstenção é elevada. Eles sabem disso. Por isso mesmo, nunca o dizendo, até lhes convem que muita gente fique em casa a ver tv ou a tratar das suas coisas porque, indirectamente, estão assim a trabalhar para que muitos que o não merecem sejam eleitos. Curiosidades e preços que têm de se pagar por viver em democracia... Mas voltemos aos eleitos. Quanto mais baixarem o nível da sua actividade política, mais se atolarem nos vícios dos corredores dos poderes, mais menores e mesquinhos se tornarem, mais se desacreditam e mais desacreditam a política e os que, honestamente, a servem. Mas há também que olhar para o espelho, olhar nos próprios olhos, e termos a coragem de começar por nós próprios. Estudemos, aprendamos, ouçamos, lutemos contra a ignorância e a violência, os maiores males que nos rodeiam. Em cada lugar onde estejamos, tenhamos a capacidade e, também, uma outra coragem, de lutar pelos valores da honestidade e das verdades, do respeito e da tolerância, do combate por ideais.

Por último os brancos e os nulos. Há uns tempos atrás, escritor laureado lembrou-se de afirmar as virtudes do voto em branco. Agora apareceu (veio ter comigo através do facebook) o Partido do Voto Nulo. Considero que há a mesma legitimidade em pelar nestes votos, como em A, B, ou C, ou etc, independentemente dos créditos que nos mereçam. Eu preferiria sempre que mais valia votarem em alguns dos que não são eleitos, como, por exemplo, o Movimento Esperança Portugal. Mas, à parte este comentário pessoal, se um dia acontecesse que, somados os Brancos e os Nulos, fossem maioria, talvez isso significasse que a democracia estava muito muito doente, mas que haveria uma maioria com consciência disso e, porventura, com vontade de combater a doença e construir coisas novas e melhores.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sabe onde se situa no espectro eleitoral?

Enviaram-me este link muito interessante para quem está interessado em saber qual o seu posicionamento no espectro eleitoral.
Uma surpresa?
...
http://www.bussolaeleitoral.pt

terça-feira, 22 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Recordar I

faz de
uma pedra
um sol

aperta-a na mão
concha fechada
até sentires o sol
dentro de ti

agita-a como átomo
onda vela
até sentires o barco
que em ti há

vibra-lhe toda a força
do teu mastro
em alavanca

rasgará espaços

quando for sonho
de construir sois a vencer
manhãs de nevoeiro
saberás que
tiveste o sol nas tuas mãos
e porque quiseste o
deixaste
voar

(in Descaminhos de Barcos, Hugin Editores Lda, 2ª edição, Julho de 2000)


Ficou-me de pequeno este infinito prazer de procurar à beira mar ou rio aquelas pedras macias de tão lisas que são capazes de voar por cima da água em saltos prolongados até por fim desaparecerem.
Fazia e faço isto sem conta nas praias por onde passava e passo. Mas a memória mais forte vem das margens do Alva, o pequeno grande rio da memória da minha adolescência, da descoberta, do sonho, da água fria e doce. Estávamos na primeira metade da década de sessenta. Portugal era cinzento mas havia muita coisa que mexia e na sombra brilhava. Seria ainda precisa uma década de luta sofrimento e dor para derrubar a tirania.
Achei o Alva durante as férias passadas em casa da minha avó Adriana, numa pequena aldeia a meio caminho entre Arganil e Pombeiro da Beira.
O prazer maior era ver a pedra que voava do meu braço em alavanca atravessar o rio e do outro lado beijar com estardalhaço as pedras adormecidas. Ou então ficar escondida no musgo da margem com um surdo ruído como um adeus.
Anos mais tarde voltei aos mesmos lugares. E contei histórias doutros tempos aos meus filhos. E lembro-me bem que uma das minhas filhas se mostrou particularmente interessada em aprender a técnica de lançar pedras a saltitar na água e a deixar um rasto de prazer.
Foi depois disso que nasceu o texto que agora passadas dezenas de anos iniciou a série intitulada Recordar.
Uma série aberta aos familiares e amigos e amigos dos meus amigos que aqui queiram deixar uma marca do passado. Alguma coisa que nunca esquecerão.
Aguardo que me enviem o que desejarem.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

OBAMA E A SAÚDE

Recebi emails de vários amigos perguntando o que se passa por estas bandas com mais uma tentativa de reformar o sistema de saúde nos EUA.
Não tenho acompanhado com pormenor toda a telenovela fabricada pelos sectores mais conservadores da sociedade americana: a ala mais à direita do Partido Republicano, as franjas racistas (a KKK ainda existe), o lobby das armas, algumas empresas que fomentam e suportam falsos “movimentos de opinião”, os fabricantes do medo, tudo isto e muito mais suportado por rádios locais (entre as quais se distingue a de um senhor chamado Rush Limbaugh, que destila ódio por todos os poros) e pela Fox News (principalmente por senhores como Hannity ou Glen Beck, que são os porta-vozes da direita republicana mais radical).
Como pano de fundo de toda esta amálgama de gente diversa, mas que converge no combate contra Obama e o que ele representa, está a luta contra o “socialismo”!
O esclavagismo acabou e os anos sessenta em que, na Florida (como em todo o sul), havia escolas para pretos e escolas para brancos, em que os pretos não comiam nos mesmos restaurantes dos brancos, em que não podiam andar de autocarro, etc, já estão distantes. Já lá vão os tempos do McCartismo e da perseguição e morte dos comunistas. Já não interessa falar dos terroristas ou do Reverendo Wright (lembram-se?). Agora, o que põe em causa o futuro da América (eles falam sempre da América e não da parte que dá pelo nome de Estados Unidos da América) são as medidas “socialistas” que o Presidente Obama pretende ver aprovadas no Congresso (House of Representatives e Senado).
Para aumentar a confusão o Partido Republicano anda sem rumo e sem liderança. Quem é o líder, ninguém sabe. Lutas intestinas, sorrisos hipócritas, tentam disfarçar a crise de um Partido que foi poder e que agora está em clara minoria no Congresso. Uma crise que tem a ver, ela própria, com a crise de valores da sociedade em que se insere.
Também não tenho acompanhado com entusiasmo a actividade do Partido Democrático. Este sistema bipartidário, ora agora governas-te tu, ora agora governo-me eu, deu o que deu e o que continua a dar. Vivo a experiência de uma democracia mitigada e não participada (nas eleições presidenciais votam menos de metade dos cidadãos e nas restantes, entre dez a vinte por cento), tolhida por ideias feitas (a ideia que os EUA e os seus cidadãos estão acima das leis e do direito internacional, a superioridade “americana”, o nacionalismo provinciano a que chamam patriotismo, etc), comandada pelas grandes corporações e por um poder militar que pretende valer por si.
Os EUA são o único país industrializado que não têm um sistema de saúde universal. Será preciso dizer mais?
Tem acesso aos cuidados de saúde quem tem um seguro de saúde. Há dezenas de milhões que não conseguem ter (por falta de capacidade financeira, por estarem desempregados, ou pelas companhias de seguros não os aceitarem – por serem doentes, ou demasiado gordos, ou outra razão qualquer, o que eles chamam as “preconditions”…).
Há um programa público, chamado Medicare, para os cidadãos com mais de 65 anos. Data de 1965 e foi aprovado nos tempos do Presidente Lyndon Johnson. Nesse tempo o Partido Republicano desenvolveu uma campanha agressiva contra a ideia “socialista” de haver um programa de saúde para os mais idosos! Agora dizem que Obama quer destruir a Medicare!
Obama foi muito claro na intervenção de 45 minutos que fez, ontem, perante o Congresso.
Os que têm seguros de saúde (mais de 200 milhões) verão, com esta reforma, os seus direitos melhor defendidos. Os que não têm (dezenas de milhões) terão acesso a um sistema público de seguro que competirá com o sistema privado. Os custos de saúde globais serão reduzidos e controlados. As companhias de seguros não poderão impor condições especiais para não darem seguro a quem mais precisa dele (preconditions) e estarão sujeitas à concorrência do sistema que será criado.
Contra isto está a direita radical. E vale tudo. Desde a gritaria comicieira, até ameaçar com armas, passando pela inefável Sarah Palin a anunciar que o programa de Obama é uma sentença de morte para os mais velhos (sic)!
Obama avisou. Muitos têm sido os Presidentes que têm tentado introduzir melhorias e reformas no sistema de saúde. Ele não é o primeiro. Mas quer ser o último. Desta vez a reforma é para seguir em frente!
O que irá acontecer?...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

Aqui de longe, onde me encontro, preciso das notícias que me chegam dos amigos, preciso da net e dos blogs, preciso de procurar.
Os noticiários de que disponho nestas televisões e rádios do grande ex-império são esmagadoramente provincianos, pequeninos e manipuladores. Falam das esquinas das ruas próximas, do crime de alcova, do desporto caseiro. Celebram os desastres e as mortes das celebridades como vampiros sedentos. Vendem o que é fácil. Eternizam a ignorância.
De Portugal chegam-me os emails e posso vasculhar notícias.
Recebo muitas opiniões a criticar este e aquele. Raramente recebo um comentário a apoiar este ou aquele.
Por isto e por aquilo é que não voto no Sócrates, dizem uns. Reparem no que os castelhanos dizem do cartaz da Ferreira Leite, dizem outros. Do que resta do panorama político português fala-se pouco: não serão poder (também o sabem)… por isso poderão continuar a ser oposição (o que é muito bom e até dá dinheiro)…
Em Portugal (como noutros sítios) não se vota POR. Vota-se CONTRA.
Não há coragem para dizer “eu voto em A, porque é o melhor, o mais honesto, o mais competente, o incorruptível!”
O que se diz é mais cómodo e tem mais a ver com a doença infantil do português errante, a inveja. “Não voto em A!”
E fica dito.
Sou contra o que está e serei contra o que vier. Não me peçam mais nada porque nada mais darei.
Uma vez mais se confirmará a tragédia dos últimos 400 anos. Não se quer o melhor. Quer-se o menos mau dos piores!
É caso para o ateu dizer “Valha-nos Deus!”