sexta-feira, 23 de outubro de 2009

DA BÍBLIA...

A propósito da última polémica levantada por Saramago recebi uma mensagem do meu amigo José Luís Ferreira que vem publicada no seu blog http://omeuflash.blogspot.com/ que, desde já, vos convido a visitar.
De qualquer forma aqui vai o texto completo.
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Vasco Valente Correia Guedes, que usa assinar com o pseudónimo Vasco Pulido Valente, parece que só em alguns dias pares do ano consegue ser lúcido e aturável. De resto, em todos os dias ímpares, além dos restantes pares, é um velho chato, rezingão, convencido de um largo saber e de mais que variável humor, se é que alguém, alguma vez, lho descobriu.Já li coisas boas de VPV (soa melhor e é garantia de melhor proveniência), muito provavelmente nalgum dia par do calendário. Mas a data de ontem, 23 (dia ímpar, note-se), o social democrata, pela graça de Deus nascido num bom berço e que faz gala em se apresentar como tendo feito o seu aprendizado académico superior na ultrachique Oxford, revelou-se um elitista repugnante face ao comunista (cruzes!) José Saramago, dedicando-lhe uma peça miserável acerca das suas últimas declarações que incomodaram os católicos, mesmo a larguíssima multidão deles que são, consabidamente, pseudoleitores ou (menos ainda) conhecedores da Bíblia.A gratuita rudeza, a manifesta sem-razão, o ódio encarniçado, o veneno que vomitou na sua coluna de ontem no Público acerca do autor de Caim, foram confirmados pelo frente a frente, moderado por Mário Crespo, entre Saramago e o padre Carreira das Neves.Na sua referida coluna de ontem, VPV (a quem o Correia Guedes não garantia o berço desejado) considerou, bem explicitamente, Saramago inculto, iletrado e ignorante e um pobre coitado como são, na sua óptica, todos os não nascidos num berço de ouro, rico e com dossel adamascado ou de seda como seria, supostamente, o seu.Já no debate, o teólogo e especialista em temas bíblicos não só não usou da mais leve falta de respeito pelo genuíno ateu que é o autor de Caim (antes pelo contrário, fazendo-lhe até elogiosas referências), como não conseguiu contrariar Saramago, que mostrou saber do que falava. Ao contrário, foi o Nobel que deixou atrapalhado e sem convincente argumento o teólogo e biblicista.Infeliz e… (como hei-de dizer…) infantil (sem dúvida o caso) foi o clérigo que, a dado passo, e a propósito da linguagem metafórica dos textos sagrados aludiu a natural compreensão, para o fenómeno, de um autor que tanto lança mão da imagética, como acontece com o seu opositor. Mas, curiosamente, antes que, com a sua habitual calma, Saramago lhe desse resposta a tal ingenuidade, foi Mário Crespo que, não se conteve e referiu que se o Nobel usa de tais imagens e metáforas nos seus livros… Estes, porém, não são sagrados!Foi, realmente, um debate interessante e de nível, aquele a que assistimos esta noite.Coisa bem diferente foi a chicana deplorável do sr Correia Guedes.

1 comentário:

  1. Não li a coluna a que se referem do Vasco Pulido Valente, muito simplesmente porque das poucas vezes que me entreguei a essa tortura, senti-me masoquista - sensação que repudio veementemente - e fiquei definitivamente alérgica. Concordo com tudo o que o José Luís Ferreira escreveu sobre o senhor em questão e acrescento que ele vai acabar por ficar gravemente envenenado com o seu próprio veneno. Sobre José Saramago, não nos preocupemos mais. Ele paira acima de todo este ruído que quase nos ensurdece nos media e, mais, teve a humildade, o bom senso e a sabedoria de admitir que se tinha excedido em determinada afirmação, que me escuso de repetir. José Saramago, queiram ou não, é um marco da literatura portuguesa e mundial. Pode-se concordar ou discordar do seu verbo falado, mas a sua escrita é superior às polémicas que geram as suas entrevistas. Acresce que a Liberdade é, ou melhor, deveria ser, universal e não objecto de apropriação de uns quantos pobres de espírito como Pulido Valente e o deputado europeu do PSD, de que nem me lembra o nome (abençoada falha freudiana de memória!). A aristocracia não se confina ao elitismo serôdio de VPV. A Aristocracia pretende-se de espírito e o caminho vai além-Deus. Como dizia Fernando Pessoa, que cito de cor: Que nenhum filho da puta se atravesse no caminho/ eu vou pelo infinito fora até chegar ao fim.

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