quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PROCURAR AS RAÍZES - 3

Do meu sobrinho Fernando Hugo, angolano, português e, agora, brasileiro, com pedido de publicação, recebi o seguinte texto (sic).
Um contributo mais neste esforço de "procurar as raízes"...
...
O interessante do artigo do Rogério foi que suas pesquisas e palavras chave usadas foram em inglês, "english slavery", entre outras... Corroboro com o que escreve Rogério em muitas partes, mas discordo na essência. Ele, e como qq português ou pessoa de fora que olhe para o Brasil, olha errado, e falo por experiência própria, o Brasil não é só carioca, o Brasil não é só garota de ipanema e o Brasil não é só Maitê Proença. E de uma coisa posso garantir, a mídia então falhou nessa tentativa de poluir com ideias pretensamente erradas. A Maitê não representa nem de longe todo um povo, e ela nem teve essa pretenção. Já li muitos comentários descontextuados, maioritariamente xenofobos, tanto do lado de brasileiros, quanto de portugueses quanto a este assunto, que precisamente se esquecem de suas origens. Há em toda esta discussão pouco conhecimento da outra parte. Mas nos remetendo ao fato de que Portugal tem uma boa parte da responsabilidade por não ser conhecido no Brasil, é determinante neste caso. Que a cultura portuguesa foi muito mal difundida no século passado nesta zona do mundo, foi. O que tenho notado nestes 8 anos de convinvência com os brasileiros, é que eles sabem resumidamente que português gosta de música pimba (igual à do Roberto Leal), conhecem alguns fados cantados pela Amália, que comem bacalhau, que têm um vinho bom, que são pouco inteligentes, muito trabalhadores e donos de padaria, e todos eles de norte a sul de Portugal trocam os "Vs" pelos "Bs". E pronto, acabou. Ainda esperava algo mais de descendentes diretos de portugueses, mas não, conhecem realidades destorcidas, uma imagem não condizente com Portugal ou com os portugueses e de hoje e de há pelo menos 60 anos atrás. Porque raio me perguntava eu. Porque será que só esses aspetos ficaram na memória coletiva? Portugal e os portugueses são tão mais complexos que isso, são feitos de tão mais partes... Será que não foram capazes de deixar mais nada?... E de facto não foram, o problema nunca foi os assassinos e os procurados pela justiça se terem refugiado aqui, foi que sua própria cultura era baixa, conheciam-se a eles próprios mal, e deixaram com eles ideias distorcidas. Português veio para aqui fazer vinho. Uva no Brasil?... No Sudeste conseguiram algumas uvas de boa produção vinícula, mas no Sul onde estava o clima para o cultivo de uva estavam os alemães e holandeses que trouxeram consigo toda o seu know how de produção de vinho, e hoje são os que vendem e produzem vinho. O vinho produzido por portugueses que se estabeleceram no sudeste é de má qualidade. Estranho não? No sudeste podiam ter plantado outras coisas, e plantaram, mas daí vieram os japoneses com todo o seu know how e produziam o dobro em metade dos terremos onde o know how português imperava. Os portugueses que fizeram fama e dinheiro, salvo raras e honrosas excepções, foram os padeiros que inventaram um novo conceito de negócio e de estrutura de padaria, o que é fantástico, mas que também os portugueses falam tão pouco, embora os Brasileiros todos saibam. Portugueses, pude testemunhar tanto em Angola quanto aqui não se orgulham muito de serem os maiores produtores do mundo de cortiça. Eles preferiam ser reconhecidos como produtores de estanho, ferro, produtos mais nobres, acredito. Porquê?
Portugueses fazem piada de brasileiro? Quem disse isso mentiu, português faz piada de alentejano, ora, faz piada do povo do Alentejo, dos povos mais trabalhadores que existe no mundo, os chamando de preguiçosos. Se desdenha a si mesmo, ri de si próprio, isso é bom por um lado, mas se tivesse orgulho de tudo o resto provavelmente isso não seria mais um ponto que desfavorece a imagem de que os portugueses merecem, e favorece sobretudo o preconceito. Os portugueses falam tudo no diminuitivo, um cafezinho, uma comidinha, um peixinho, um vinhinho, e resultado: um paísinho. Portugal necessita com urgência de transmitir mais o que é, como é e deixar-se de mesquinhices, assumir um papel que o levará a ser mais conhecido, sua cultura mais respeitada, seus artistas mais ouvidos, vistos, olhados, sentidos, apreciados. E olhem tudo o que tenho visto apesar das piadas de português, é que o povo brasileiro apesar de pouco conhecer de Portugal respeita os portugueses e um dos seus maiores desejos é conhecer a "terrinha". Mídia golpista parece ser algo como a "teoria da conspiração"... Menos!, meu caro Rogério, bem menos. E o que a Maitê disse, e não o que é, foi apenas um disparate alimentado por este estado de coisas provocadas pelos próprios portugueses. E eu que sou Angolano de meu pai, onde também nasci, Português de minha mãe e Brasileiro de meu filho, resta-me uma questão: "- E Angola, hein? Ah, Angola? Onde fica Angola? Lá falam português? Ah então fica na Europa, assim do ladinho de Portugal". E ser americano é muito mais legal. Fala-se inglês, assim como os termos que colocou Rogério, nas suas pesquisas no google. E tem-se orgulho da bandeira! Ama-se a bandeira, ama-se a terra, orgulha-se de cada clip que se produz. Bate-se no peito, grita-se aos ventos o que se é. Por pura curiosidade, alguém conhece e já viu por acaso a Bandeira do Estado de São Paulo? (O Estado de São Paulo é o mais rico estado brasileiro, e na região metropolitana de São Paulo (capital do Estado) cabem 2 Portugais (em termos demográficos)) Saudações Revolucionárias, Fernando Fernandes PS: Ah, e se alguém puder transmitir ao Rogério: Visite o Brasil, e descubra, que os brasileiros o adoram. Embora logo que possam vão contar uma piada de português para o fazer corar e o colocar afinal bem mais à vontade. Mas vão integra-lo na sua roda de samba, convidarem-no para um chimarrão, comer acarajé, e como resultado da influência do sangue de seus antepassados portugueses e por respeito a si irão fazer piada de baiano (igualzinho como você faz de alentejano). Interessante, não? E você preocupado com a Maitê... tss, tss...

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