quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Depois das eleições... Parte 2...

Alguns amigos enviaram-me respostas por email.
Pedi autorização para publicá-las sem referir os nomes.
É o que faço com prazer.
...
Resposta A do amigo A.
Caro Fernando,

Gostaria de continuar a manter contigo uma amizade sem nuvens, ou seja, sem a paixão e a subjecividade que a política empresta a tudo aquilo em que toca.

Tu estás a milhas do que se passa aqui e, mesmo bem informado, não respiras esta atmosfera, não engoles o que nós engolimos e não cheiras os pivetes que nós temos que aturar. Por isso as tuas análises não conseguem a minha adesão nem me provocam qualquer desejo argumentativo.

Bem podes achar que o ps teve uma grande vitória mas o que eu vejo é que todos aumentaram os seus grupos parlamentares à custa do ps que se limitou a encolher. Portanto, perdeu por poucos e não teve que ceder o lugar. Isto é factual e é o que se espera que um engenheiro diga, acho eu. O resto são fantasias.

A mim o que me envergonha é ser governado por um pm que se arrisca a vir a ter um mandato de captura internacional. E que obteve um simulacro de licenciatura nas condições que tu conheces. E que fez, e faz, outras coisas de todos conhecidas e que não acho motivo de orgulho nem desculpo.

O que faz de mim um sujeito intolerante nestas matérias é o facto de sempre ter dito que não poderia ser de partido nenhum porque a) é impossível encontrar algum que reflita a 100% o meu pensamento e porque b) nunca iria prescindir de dizer o que penso sobre qq matéria. Ou seja, tento mesmo manter-me independente e, para isso, tenho que ficar de fora .

A parte interessante que eu gostava de discutir contigo é aquela em que te referes às mensagens do eleitorado, cartão amarelo, etc, etc. Mas não por email. É que gostava mesmo de ter alguém inteligente a quem peguntar se a vontade do eleitorado existe. Eu acho que não. Há um somatório de vontades individuais a que se deu essa designação mas, saltar daí para criar uma personagem mítica que se expressa e a quem nos podemos dirigir, vai uma grande distância. Imaginas como me rio quando vejo uns senhores pretensiosos a espremerem as meninges para decidirem se um partido deve ou não pedir a maioria absoluta e as eventuais consequências disso no "eleitorado". Mas de que é que isso serve? Há boletins de voto para maiorias simples e maiorias absolutas? Em que é que um cidadão pode alterar o seu comportamento se o partido em que vai votar pedir ao eleitorado a maioria absoluta?

Espero que não leves a mal estas zargunchadas. Mas, para palmadinhas nas costas, acho que já deves ter amigos que cheguem.

Abraço.
...
Resposta B da amiga B.
Acho graça ainda teres garra para te entusiasmares com estas matérias daí, que te felicito por isso. Claro que tb contribuí para a vitória do PS, mas a "corte" à volta do poder é igual a tanta coisa menos boa que já vi, que o meu entusiasmo não se iguala ao teu.

2 comentários:

  1. Não me parece que o FM tenha cantado loas à vitória do PS. Ganhou, pq teve mais votos do que os demais; e perdeu, pq ficou sem maioria absoluta, e perdeu meio milhão de votantes.
    Instabilidade ? Só se os actores políticos não souberem trabalhar democraticamente !Tenho por absolutamente certo que a maioria absoluta é o pior inimigo da democracia.
    Mas nem todos são capazes de desencadear ou aceitar processos participados de consulta e decisão, de ter em conta a opinião dos demais - que também existem, e muitas vezes em maioria (como é o caso agora).
    Para mim é claro: as arrogâncias de todos têm de dar lugar à discussão para o entendimento.
    E vou mais longe: os partidos da Esquerda, e aqueles que os lideram, têm, em definitivo, de dar ao Povo a demonstração de que são capazes de concretizar a vontade maioritária do Povo (tantas vezes afirmada nas urnas sem nunca ter tido concretização governativa). Obviamente, com soluções de compromisso: não há soluções politicamente "puras" sem esmagamento das opiniões diversas.
    Se não fossem capazes disso agora, perderiam o combóio do Presente e do Futuro que este País reclama.

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  2. Ora aqui está um comentário lúcido...de um engenheiro! É que eu tb sou e não gostei da boca...apesar de não saber donde veio.
    É muito fácil cantar de galo e analisar a situação política de um ponto de vista xadresístico teórico e pretensamente isento. O problema é que o país bateu no fundo e os diferentes corpos sociais vivem todos que nem náufragos, esbracejando e afogando quem está ao lado... Governar esta situação, em que todos são corresponsáveis, os que estiveram no poder e os que não estiveram mas não souberam até agora abdicar do acessório para se aliarem no essencial, não foi e não será fácil...
    A menos que o nosso amigo ache que os profs, etc., etc. tem razão, e todos os demais corpos sociais que se sentiram tocados nos seus privilégios e absurdas pretensões...
    Quanto aos pivetes... venha daí quem não os tem! Não gostando do PM nem sendo PS, rendo-lhe a minha homenagem por ter tido a coragem de pretender governar um país falido; é preciso colh... como dizem na minha terra. Quanto aos resultados obtidos eles falam por si. Quem tentou antes ainda afundou mais e desbaratou património... Quem não tentou nem podia tentar continuou a cantar as mesmas loas como se crise não houvesse e os recursos fossem ilimitados para distribuir. Bastaria imaginar o que teria sido esta campanha passada se não houvesse a crise mundial... não estaríamos aqui a falar sequer e era só tapetes de flores!
    Faço votos que a mensagem do VL seja ouvida por quem deve, desde os encantadores de serpentes aos sonhadores de miragens perdidas, mas se bem os conheço ainda não é desta... Oxalá me engane!
    Saudações democráticas!

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